Friday, December 17, 2004

Ubatubanas II

Vá tomar banho é uma afirmação imperativa. Busca remeter alguém a um ato prazeroso.
Bem, pelo menos eu penso dessa forma, gosto dos banhos, sejam eles de mar, piscina ou chuveiro.
Nem sempre foi assim no Brasil. Mesmo porque o chuveiro elétrico é coisa recente, bem como o banheiro interno. Antigamente ia-se à casinha, que era o banheiro, literalmente uma casinha separada do corpo principal da casa.
Na época do Império os banhos eram considerados aviltamento. D João VI, com uma ferida na perna, agravada por estar sob os restos de uma meia semi-apodrecida, recebeu ordens médicas de banhar-se.
Que ultraje! Foi a resposta complementada pela exclamação: no fim do ano talvez!
Os imigrantes europeus que aqui aportaram para substituir os negros na lavoura, também não eram chegados à higiene pessoal.
Banho só aos sábados, nos dias restantes quando muito se lavava o rosto e os pés. Os franceses inventaram uma boa forma de camuflar odores corpóreos. Perfumes.
Perucas empoadas e perfumes. Até hoje preferem os perfumes aos banhos.
Dos costumes ancestrais ficou a ofensa no envio de alguém aos banhos. Vá tomar banho é um xingamento! Equivale em intensidade de afronta ao mencionar de certa parte do corpo das mães.
Os índios gostavam de banhar-se e também tinham mais consciência corporal.
Vestiam –se de acordo com o clima, isto é andavam nus. No calor dos trópicos é a melhor roupa.
Foi a cultura que acabou prevalecendo. Hoje os civilizados usam pouca roupa e tomam banho.
Em tese, há muitos que ainda preferem o comportamento felino, isto é, lavam apenas as mãos e o rosto.
Em Ubatuba, há alem da proximidade do mar, a influência indígena.
As pessoas se acostumaram aos banhos, embora um caiçara autêntico, o Zé Bode Véio, afirmasse que nunca tomou um banho na vida.
Era percebido na cidade quando estava na praia das Toninhas e o vento soprando do Sul.
Desapareceu após tomar um litro e meio de Ubatubana e dormir na areia.
Teria sido recolhido pelo caminhão de lixo, transformado em adubo e exportado para o Canadá.
Foi o fim do acordo Brasil-Canadá de intercâmbio de fertilizantes. O fato é que após o desaparecimento do Bode Véio morreu parte da lavoura do país do norte.
Há quem culpe a Ubatubana pelo feito. Outros dizem que foi excesso de azul-marinho com coentro.

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