Wednesday, December 01, 2004

Da criação...

Acabei da saber, através do meu Fax-de-Plasma, que escavações feitas na Palestina, em 32-DC deram num baú de magnésio, cujo teor de pureza indica ter sido feito por uma civilização muito avançada. Durante séculos – isso eu soube através do celular de Vapor de Mendelévio, que não dá câncer! – a humanidade tentou abrir o baú. Tentativas infrutíferas. Até o Rei Arthur foi instado a fazê-lo. Consta que contemplando a parte posterior da bela Guinevére, que abaixada acendia o cigarro na lareira, o Rei, distraído, pegou o baú, chacoalhou e disse gostei, tem um belo som, comprem duas grosas! Assim a humanidade descobriu que havia alguma coisa dentro do misterioso invólucro, que parecia ser mágico. Certo dia o mercador Tulius Minervus arrematou a peça em leilão e levou para Roma, onde vendeu como relíquia religiosa. Lá o baú ficou até o século XX, quando foi levado para o Brasil por um imigrante italiano chamado Agostino. Isso aconteceu por volta de 1953, o baú que não servia para nada acabou no fundo de um armário de quinquilharias. Em 1957, bateram na porta do agora próspero caminhoneiro Agostino. Ele abriu e deu de cara com uma mulata de quase dois metros, com lábios carnudos e dentes de marfim, só faltando o colo de alabastro que fatalmente teria não fosse negra, tinha, portanto colo de ébano. Agostino participou da invasão da Abissínia e desde então ficou com uma queda por peles escuras. Solícito pediu que ela entrasse e sentasse e perguntou o propósito da visita. Fazendo boca de Grande Otelo, Desdêmona, - juro que era esse o nome dela! – pronunciou o nome do produto que vendia, alto e em bom som, escandindo as sílabas:
- Eu vendo Carnê Erontex!
Nesse momento um relâmpago cruzou os céus e atingiu a casa de Agostino, destruindo tudo, não sobrando sequer uma unha dos dois. No meio dos destroços brilhava resplandecendo o baú, misteriosamente aberto pela palavra mágica Erontex! Triste o destino desses dois. Quando as autoridades competentes chegaram, encontraram um livro impresso em ouro, em aramaico antigo, onde “savunque” não queria mais dizer trapiche e sim bolinho de peixe, o que causava enorme confusão. O livro trazia uma revelação. Antes da criação do Universo, Deus já havia tentado criar outro, mas teve problemas de ordem prática. Segue um resumo das revelações.
No princípio era o vazio, muito antes do Bang-bang e do instante primordial. Só havia Deus, que passava o tempo, ou melhor não passava o tempo pois o tempo não existia, Deus jogava xadrez e ficava entediado com os empates.
Assim Deus criou seres à sua semelhança, para trocar idéias, jogar xadrez e de vez em quando uma partidinha de volleyball de nuvem. Também havia grandes concertos de Rock na sopa primordial.
Havia os Al (de alfa), os Bl (de beta) os Dl (de delta), seres parecidos conosco, porém de cores diferentes. Como não havia reprodução as cores não mudavam, aliás nada mudava, aliás nem dá para imaginar direito como era passar o tempo sem ter o tempo para passar.
Um dia Deus criou o espaço de tempo e determinou que em um ano estaria pronto o universo.
Convocou então cinco Als, cinco Bls, cinco Cls,... até completar o alfabeto com cinco Zls. A idéia divina foi usar grupos de trabalho para dividir as tarefas da criação.
Na primeira reunião em janeiro do ano menos um, houve consenso quanto à esfericidade dos astros, até a hora de referendar tudo, quando um Gl pediu a palavra e disse que embora concordasse, preferia a forma cúbica. Outro atento participante, disse que jamais isso seria tolerável, os icosaédros são mais estáveis. Um terceiro elemento passou a defender os tetraedros. Deus preferiu adiar a decisão por algumas sessões. Na outra semana discutiram os animais domésticos. Todos foram unânimes quanto ao cachorro, a questão pegou na definição do número de pernas. Quatro cinco ou seis? O projeto também foi adiado.
Dessa forma, de adiamento em adiamento a coisa caminhou até faltar oito dias para terminar o prazo. Só estava decidida a criação das pizzas, houve unanimidade nesse item. Quando chegaram para a reunião do dia menos oito, os membros das equipes de trabalho perceberam uma novidade. Deus havia criado uma mesa, com um belo tampo de carvalho envernizado. Sentado na frente da mesma ele abriu a sessão propondo que se resolvesse a questão das agulhas de crochê, se teriam ou não furos. Houve uma enorme confusão, todos discutiam e cada um falava mais alto do que o outro até que a platéia assistiu outra criação divina. O murro na mesa. A primeira palavra depois do murro foi chega! Quem manda aqui sou eu e vou fazer o Universo do meu jeito. Vocês estão descriados, vou inventar o homem para ser meu semelhante. E dito isto fez um gesto e todos os membros dos grupos de trabalho desapareceram e Deus pôde finalmente criar o mundo como ele é hoje. Em uma semana Deus fez o trabalho, é fato que muita coisa estava planejada, mas ele acabou mantendo sempre sua idéia original e assim as folhas das árvores são verdes e não rosa choque como queriam os Gls, os cães têm quatro patas e as mulheres dois seios e não dezesseis como era a idéia de alguns. Se está bom ou não, é difícil julgar, quem somos nós para tanto? Uma coisa deu para aprender. Nem Deus consegue produzir quando muitos dão palpites. O poder deve emanar de uma única pessoa que deve ouvir a todos e tomar as decisões. Tudo o mais é decorrência.

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