Wednesday, May 04, 2005

Ponte da Ressaca

sidney borges


Esse bloco granítico de forma indefinida foi um dia uma ponte. A ponte que a chuva levou. Sob ela passaram águas turbulentas e suponho até um Celacanto feroz. Tanto passaram, águas e quimeras, que um dia resolveram levar a ponte. Agora é preciso construir outra. Espero que seja bonita, tudo o que o homem faz deve perseguir a beleza. O belo agrada aos olhos e ao coração.

Sidney Borges

Saturday, January 22, 2005

Chuva de metano!

Leio nos jornais que Titã, a lua de Saturno, tem rios e chuva. Apenas o líquido que corre nos rios e desce das nuvens em gotas não é a nossa velha e conhecida água e sim metano, que aqui na Terra, dadas as condições de pressão e temperatura, existe no estado gasoso. Sempre é bom lembrar que a temperatura média de Titã é de 180 ºC negativos. O metano é um gás altamente inflamável, presente no trato intestinal dos humanos. Faça-se aqui uma ressalva o metano inflama-se quando combinado com oxigênio, sem este não existe combustão e portanto o metano é tão inflamável em Titã, onde não há oxigênio, como é o leite tipo c na Terra. Lá ninguém conseguiria acender um pum. De qualquer forma é bom ir pensando na construção de um “metanoduto” ligando Titã à Terra. O gás, abundante, poderia substituir boa parte do petróleo, o que ajudaria a pacificar o Oriente Médio.

Dipromacia

O Itamaraty não considera fundamental saber Inglês. A prova do idioma do príncipe Charles deixou de ser eliminatória, passou a ser classificatória. É mais uma demonstração da vocação democrática da administração socialista do presidente Lula. Qualquer garoto bem intencionado, que estudou em boas escolas públicas e que tem interesses em representar o país, poderá agora prestar o exame para ingressar no Instituto Rio branco sem medo de competir com os burgueses que estudaram inglês desde criancinhas. E tem mais, o governo socialista vai transformar o país numa potência, deu na Globo. Vai acontecer em quinze anos. Depois disso, os diplomatas dos outros países é que vão estudar português brasileiro para conversar com o nosso presidente.

Sunday, January 16, 2005

Previsões para 2005

Ontem encontrei o Azulão, que entre outras coisas recebe o caboclo Almox, que teria vivido em Ubatuba por volta de 1830.
Perguntei sobre a vida, a família, os amigos e ele em poucas palavras disse que o mundo vai mudar. Almox afirmou convicto que em 2005 começará a grande virada.
Fiquei curioso, queria saber mais, comecei a perguntar e ele então fez a proposta.
- Vosmecê compra um Black and White, aparece em casa e depois de uns traguinhos o próprio Almox conta as novidades.
Fiz o que ele pediu, lá se vão os tempos em que pais de santo bebiam cachaça, Azulão só toma scotch, pode ser de segunda linha, mas tem de ser scotch.
Meia garrafa depois, sentado na confortável varanda da casa do médium, notei que ele começou a tremer, virar os olhos e mudar o tom da voz, até cair em transe profundo. A respiração ficou compassada, Azulão aspirava grandes quantidades de ar e devolvia demoradamente em sopros intermitentes. Súbito levantou a cabeça, olhou para mim com os olhos fechados e me cumprimentou.
- O que traz o amigo a estas bandas humildes?
Resolvi saber se a entidade que ali estava era a mesma que eu queria entrevistar. Perguntei:
- Almox, você é o Almox? Ele respondeu:
- É assim que me chamam, na verdade sou Gumercindo de Paiva, o primeiro especialista em almoxarifado do Litoral Norte. Fui treinado em Lisboa! Acabei conhecido como Almox, pode me chamar assim. Daria para colocar gelo no copo, meu cavalo detesta uísque quente. Obedeci prontamente enquanto ele continuou:
- Você quer saber o que vai acontecer, então vou contar. Como você deve estar sabendo, Maradona voltou para a Argentina. Ontem, na esquina da Suipacha com Córdoba foi abordado por um catador de papel que olhou bem nos seus olhos e o hipnotizou, fazendo com que o ”Gordo” o seguisse até um local afastado onde conversaram. Não é necessário dizer que se tratava de um disfarce, o catador de papel era na verdade o arcanjo XY-43Z, que veio trazer um recado do “Homem”.
Maradona foi escolhido como profeta e deverá fundar uma religião, cujo símbolo será uma bola flamejante. Essa religião vai tomar conta do planeta, será a mais popular, dominando todos os continentes e todas as culturas, fazendo com que as outras sejam esquecidas.
O lugar tenente de Maradona será Che Guevara e a trilha sonora terá a assinatura de Gardel. Não posso revelar mais, estão me fazendo sinal para calar.
- E o Pelé, como é que fica o Pelé, perguntei.
Esperando a resposta vi Azulão me olhando com os olhos arregalados.
- O que foi mermão ocê tá branco! O que ele disse?
Sem disposição para responder, beberiquei um gole de coca light e saí buscando um retrato de Maradona, agora guia espiritual. Camisetas com a estampa dele vão fazer o maior sucesso!
Continuo com uma dúvida na cabeça. E o Pelé, como é que fica nessa história?
Pelo menos Garrincha deve receber algum título de santo, ou será que não?
Somos ou não somos penta? Sou contra a discriminação!

Monday, January 10, 2005

Onde andará Jonas?

Certo dia, quando eu ainda era bissexto em Ubatuba, ao chegar à Praia Grande, vindo de São Paulo, senti um cheiro nauseabundo de morte.
Algo como um rato morto – há dias – no ar condicionado do carro. No outro dia soube que era uma baleia que havia encalhado e morrido nas areias que um dia foram pisadas por Anchieta. A curiosidade matou o gato, mas fez também com que Galileu descobrisse que os corpos caem com a mesma aceleração, independente da massa e chegam ao chão juntos. Como eu dizia, a curiosidade matou o gato, aliás, estava cheio de gatos nas proximidades do cadáver do cetáceo, todos com ar de quem ganhou na loteria. Foi aí que um Jonas moderno resolveu fotografar de um ângulo inusitado e, para tanto, escalou o dorso da baleia, cuja superfície estava digamos fofa. Com lenços nos narizes em meio à sinfonia de miados e sobrevoados por um enxame de rodopiantes urubus, vimos então a carcaça ceder ao peso e lá se foi o Jonas moderno para o interior da baleia putrefata. Escapou um gás terrível – equivalente a um trilhão de peidos – que empesteou definitivamente o ambiente. Como não gosto de sofrer, dei às de vila-diogo. Ainda hoje tenho curiosidade de saber quem foi o artista que protagonizou o espetáculo bizarro. Ontem, num churrasco, disseram tratar-se de um turista. De Taubaté.